18 de outubro de 2022

Bicentenário de morte de E. T. A. Hoffmann (1822-2022) -

O dossiê “Bicentenário de morte de E. T. A. Hoffmann (1822 – 2022)”, publicado pela revista Abusões (UERJ), tem como organizadores André de Sena (Prof. Dr. – Letras – UFPE) e Carina Zanelato Silva (Profa. Dra. – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo).

Texto da apresentação do volume (Ed. UERJ, 322 págs.):

Em 2022, comemoramos o bicentenário da morte de E. T. A. Hoffmann (1776-1822), e nesta edição temática da revista Abusões, dedicada à celebração da importância desse grande escritor romântico, apresentamos uma série de artigos que versam sobre os diversos aspectos de suas obras. Hoffmann, costumeiramente associado ao fantástico e ao macabro, possui uma vasta produção literária que permeia o gótico, o maravilhoso, o insólito e a ficção científica, com fartas doses daquela ironia romântica que consubstanciam a típica binomia dessa série, sendo também nome célebre nos estudos musicais, principalmente quando se olha para as obras de grandes criadores como Offenbach, Schumann e Tchaikovsky. Seu alcance foi tamanho, que é possível encontrar reverberações de seus textos em escritores como Heine, Kafka, Gogol, Dostoievski, Maupassant, Hawthorne, Poe, Álvares de Azevedo e Machado de Assis, além de ser notável a sua influência no cinema expressionista, como nos filmes O gabinete do Dr. Caligari e Nosferatu. Também vale ressaltar a relevância do conto “O homem da areia” (“Der Sandmann”) para o desenvolvimento da teoria de Freud sobre o unheimlich, ou seja, a presença do inquietante no que se supunha cotidiano e domesticado. Hoffmann empregou em sua produção recursos estilísticos e temas bastante significativos para a literatura do século XIX – de certa forma, constituindo o acme de experimentações oriundas da segunda metade do século anterior –, que vão desde a temática do “Doppelgänger”, a exploração da ironia romântica em seus diversos aspectos, o uso de seres artificiais, como bonecas e autômatos, até a vertente mais “realista” da literatura, ao abrir portas para essa série em obras como A janela do primo. O escritor trouxe à centralidade de muitas de suas obras os choques entre o artista sensível (o gênio de feitio novaliano) e uma sociedade que a cada dia o relegava mais ao ostracismo. Neste dossiê, tentamos revelar a poliédrica produção hoffmanniana a partir de estudos e abordagens diversas de especialistas de várias áreas, os quais também refletem essa mesma riqueza ficcional e teórica, já que a série romântica institui-se justamente nesse conúbio entre criatividade autoral, teoria e metaliteratura. O artigo que abre o volume, “Crítica musical nos domínios da literatura: a reflexão sobre música na obra Kreisleriana, de E.T.A. Hoffmann”, percorre os caminhos de Hoffmann na crítica musical, detendo-se na análise do texto “A música instrumental de Beethoven” e a sua importância para os demais textos da Kreisleriana. Em seguida, o segundo artigo apresenta uma referência histórica para o personagem Kreisler, propondo como chave de interpretação dessa figura a composição de um chiste combinatório. O terceiro artigo analisa como a audição e a música operam na produção do fantástico no conto “O sanctus”. No quarto artigo, são explorados os recursos estéticos e temáticos do gótico que se anfibolizam com o modo fantástico a partir do conto “A mulher vampiro”. A temática do “Doppelgänger” é discutida nos artigos cinco e seis que, respectivamente, apresenta a fragmentação romântica do eu nas narrativas de Hoffmann; e compara o texto “Der Magnetiseur – Eine Familienbegebenheit”, de Hoffmann, com a obra cinematográfica Dr. Mabuse, der Spieler, de Fritz Lang. A obra O quebra nozes é analisada sob diferentes perspectivas nos sétimo e oitavo artigos desta coletânea: o primeiro lê a obra pelo viés psicanalítico, e o segundo compara o conto de Hoffmann ao balé homônimo de Tchaikovsky e ao filme O Quebra-Nozes e os Quatro Reinos, de Lasse Hallström e Joe Johnston. O nono artigo analisa a recepção da obra de Hoffmann em Portugal, principalmente a possível influência do escritor na prosperidade do conto fantástico na década de 1860 no país. Ainda na temática da relação da literatura de Hoffmann com a literatura portuguesa, o décimo artigo compara os contos “Der Sandmann”, de Hoffmann, e “Sede de sangue”, do português Manuel Teixeira-Gomes. No penúltimo artigo do volume, analisa-se, a partir da ideia do antropofagismo do Modernismo brasileiro, o longa-metragem Angela, dirigido por Abílio Pereira de Almeida e Tom Payne, baseado no conto “Spielerglück”, de Hoffmann. Por fim, o último artigo apresenta a recepção francesa da literatura de Hoffmann, que estimulou um amplo debate sobre a literatura fantástica no país. Além dos artigos que apresentam uma rica variedade de abordagens da obra de Hoffmann, este dossiê também traz uma entrevista com Karin Volobuef, professora da UNESP de Araraquara e pesquisadora brasileira renomada da obra de E.T.A. Hoffmann, realizada pelos editores do dossiê, que pode ser acessado por este link: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/abusoes/issue/view/2788